(postado por Daniel Castro em 09 de Janeiro de 2025)
Antes de incendiarmos a discussão, vamos juntar lenha para a fogueira:
- Qual é a função de um profissional de QA?
- E de um Desenvolvedor?
- E do Product Owner ou Business Analyst?
- Onde fica a lina tênue que separa estas funções?
- Quais são as implicações em cruzar estas fronteiras?
- O profissional de QA pode/deve programar?
- E revisar código?
- E corrigir bugs?
- Testes manuais ou automatizados?
- As descrições das vagas de QA estão aderentes à isso?
- E quando estas descrições não são respeitadas pela empresa que espera ou exige que o profissional contratado exceda o escopo original de seu cargo?
- Que impactos isso tem na carreira do profissional de QA?
- E na sua qualidade de vida?
Pronto. Alguém tem um isqueiro?
Depois de tantas polêmicas em torno destes assuntos ao longo das últimas semanas, eu resumiria tudo em uma única palavra: MERCADO.
O mercado tem todas as respostas para todas estas perguntas que tem rondado nossos feeds em longas threads inflamáveis, e não importa se gostamos ou não delas.
Para quem discute sobre as diferenças e limites entre QA e Dev, basta olhar para o mercado e ver qual é a tendência (ou realidade). Esta será a resposta com maior chance de ser precisa.
E testar? Testar é preciso?
Em 1914, quando Fernando Pessoa escreveu o poema Navegar é Preciso, ele não questionava a real necessidade de navegar. Ao dizer "Navegar é preciso, viver não é preciso" ele falava sobre precisão, acurácia, exatidão. As técnicas de navegação da época eram consideradas bastante avançadas, confiáveis, exatas, e não fazia nem 2 anos que o RMS Titanic havia naufragado. A vida, por sua vez, nunca teve e ainda não tem sequer parte da pouca precisão que a navegação jamais conseguiu alcançar, e a carreira profissional é apenas um dos aspectos mais incógnitos da vida de uma pessoa.
Óbviamente que o mercado tem diferenças e variações de acordo com a localização, o segmento, a especialização, etc., mas conseguimos navegar de forma relativamente previsível e segura ao longo de nossas carreiras de QA.
Esta carreira, porém, evoluiu muito ao longo das últimas décadas, e a sigla que significava apenas Quality Assurance já é vastamente reconhecida por Quality Assistance e, em alguns casos, até mesmo Quality Advisoring. Aliada à essa evolução, a influência das metodologias ágeis de gestão de projetos resultou no advento de Agile Testing, tornando o escopo da função muito mais flexível, dinâmico e, ao mesmo tempo, desafiador, proporcionando oportunidades para quem quer sair da sua zona de conforto, desenvolver outras habilidades, evoluir como profissional e se diferenciar em um mercado com demandas e exigências cada vez mais heterogêneas.
Dentre os maiores desafios mencionados por alguns profissionais de QA através de postagens e comentários no LinkedIn, os principais giram em torno de assuntos relacionados à programação. Vão desde a necessidade de automatizar testes, integrar com pipelines de CI/CD, até a criação de unit tests, code review de pull request, e bug fix dos defeitos que encontramos.
Não quer codar? Sem problemas, existem vagas para testes manuais. Talvez os desenvolvedores também não queiram testar seu próprio código, nem implementar testes unitários. Talvez o PO não queira definir critérios de aceitação minimamente testáveis. Talvez o colega de DevOps não queira criar uma pipeline com jobs de testes e nem fazer deploy em um ambiente pré-produção. E está tudo certo, sempre vai ter alguma empresa alinhada com as formas de trabalho destas pessoas. No caso do profissional de QA, as perguntas a serem feitas talvez sejam:
- A parcela das vagas de QA para testes manuais tem crescido ou diminuído em relação às vagas que envolvem automação de testes?
- Que skills podem ser aprendidos ou desenvolvidos que proporcionam crescimento mais rápido na carreira de QA (e consequente aumento salarial)?
- Em caso de ambições em torno de uma carreira internacional, o que o mercado aqui fora está demandando?
- Etc.
É inquestionável que a grande maioria das vagas disponíveis no mercado não estão alinhadas à forma de trabalho mais conservadora ou menos dinâmica que alguns profissionais buscam e, se estes quiserem ter mais oportunidades e maiores chances neste mercado, será necessária uma adaptação.
Portanto, testar não é preciso, mas é necessário. Não apenas no sentido de executar os testes em si, mas de evoluir continuamente como profissionais. A carreira em QA não é estática, e essa flexibilidade que muitos veem como um desafio pode ser uma oportunidade para nos reinventarmos e nos diferenciarmos no mercado.
Se as empresas esperam mais de nós, isso pode ser um convite para sairmos da zona de conforto e nos tornarmos mais completos. Não se trata de perder a identidade como QA, mas de ampliá-la. Aprender a codar, contribuir com outras áreas do desenvolvimento ou até mesmo se aventurar em novas tecnologias e processos são passos que nos posicionam como profissionais mais versáteis e indispensáveis.
No final, a decisão está em nossas mãos: resistir ou navegar. Resistir ao que o mercado exige ou navegar por essas novas águas, com seus desafios e recompensas. E assim como a navegação, a nossa trajetória como QA exige adaptação, ajuste de rota, e busca por precisão na escolha dos caminhos que trilhamos.
Então, ao invés de debatermos sobre o que um QA "deve ou não fazer", talvez seja mais produtivo olharmos para o mercado, analisarmos nossas aspirações e decidirmos onde queremos chegar. Porque no final das contas, o profissional que se adapta e cresce é aquele que melhor navega as incertezas do mercado e transforma desafios em oportunidades.
E você, como está navegando na sua carreira de QA?
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